O que acontece à visão dos bebês com microcefalia relacionada à zika?
Casos estão sendo investigados por médicos oftalmologistas do HOPE. Crianças devem continuar com o tratamento até os seis anos.
Desde que surgiu a suspeita de que a infecção pelo vírus zika provocaria lesões em várias estruturas cerebrais, entre elas as que resultam na microcefalia, médicos de diversas áreas começaram a investigar as causas e consequências do fenômeno. Entre eles, uma equipe de oftalmologistas, que atuam no Hospital de Olhos de Pernambuco (HOPE) e na Fundação Altino Ventura. Eles descobriram que em praticamente todos os casos avaliados até agora, a visão do bebê tem algum grau de comprometimento. Como essas lesões oculares podem afetar na vida da criança?
A hipótese de que o zika vírus esteja relacionado também com a ocorrência de lesões oculares em recém-nascidos foi relatada pela primeira vez na revista britânica The Lancet, uma das mais importantes do mundo. A médica oftalmologista Eveline Barros, que integra a equipe, explicou que as complicações mais observadas entre as crianças examinadas estão o estrabismo neurológico, a atrofia da retina e a alteração pigmentar (manchas na retina). Lesões que podem causar cegueira. “Se a criança não for examinada e não tiver a visão estimulada, pode, sim, ficar cega no futuro.” Dra. Eveline explica que não é uma cegueira total, mas é uma visão muito baixa, turva, como a de um recém-nascido. “É como se a visão ficasse para sempre como a de um bebê. Existe a luz, mas não desenvolve”, conta.
Assim que é constatado que a criança nasceu com microcefalia, a equipe oftalmológica tenta identificar em que fase visual a criança está. “A partir daí, vamos fazer os estímulos para aquela fase visual. Pode ser um estimulo luminoso, ou alto contraste… Cada degrau da visão que vai melhorando, vamos mudando o estimulo”, aponta. Esse tratamento deve ser realizado até os seis, sete anos de vida, que é quando a região do cérebro responsável pela visão amadurece. “Nós já estamos com um ambulatório específico para identificar os casos o mais rápido possível. Tem que analisar também se a lesão cerebral atingiu a parte visual, ver a necessidade do tratamento e, assim, agir”, diz.
Os especialistas também defendem a necessidade de se fazer exames específicos, já que apenas o teste do olhinho não ajuda no diagnóstico dessas alterações. O exame adequado é chamado de oftalmoscopia, que dilata a pupila para observar se há lesões na retina e no nervo óptico. Os problemas também estão aparecendo nas crianças que não têm diagnóstico positivo para microcefalia, por isso, é indicado que as mães que tiveram zika durante a gestação procurem acompanhamento oftalmológico para a criança.