Naná Vasconcelos morre aos 71 anos vítima de câncer, no Recife
O músico estava internado no Hospital da Unimed, no Recife. Percussionista teve parada respiratória e faleceu na manhã desta quarta(9).
O percussionista Naná Vasconcelos, de 71 anos, morreu na manhã desta quarta-feira (9), no Recife. Ele estava com câncer de pulmão.
De acordo com a assessoria do Hospital Unimed III, onde estava internado, o músico teve uma parada respiratória e passou por um procedimento, mas não resistiu e faleceu às 7h39. Até o último dia 29, ele estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade de saúde, mas, depois, foi transferido para um quarto, onde pôde ter mais contato com a família.
No ano passado, o artista passou mais de 20 dias no mesmo hospital, após descobrir o câncer. Segundo Patrícia Vasconcelos, esposa e produtora do músico, Naná passou mal após um show realizado em Salvador, na Bahia, no dia 28 de fevereiro, com o violoncelista Lui Coimbra. Ao retornar ao Recife, foi internado.
Em 2015, Naná também se sentiu mal antes de um show, mas achou que não era nada demais e seguiu com a agenda. No Recife, após uma bateria de exames, foi constatado o câncer. “Pegou todos de surpresa porque ele havia feito um raio-x do pulmão no ano passado (2014) e uma revisão geral há dois meses e nada foi encontrado. Foi tudo muito rápido, um susto”, declarou a esposa à época.
Ao ser liberado, pouco mais de 20 dias depois, o músico falou sobre o desafio de enfrentar a doença. “Eu tenho essa situação, e tenho que enfrentar com força, pensamento positivo. E vou enfrentar com o pensamento de que eu vou chegar lá”, disse no ano passado. Naná prosseguiu, então, com o tratamento, que incluiu sessões de quimioterapia e de radioterapia, por 40 dias.
Apesar do câncer, Naná participou da abertura do Carnaval do Recife no Marco Zero, neste ano, na companhia de 400 batuqueiros. E seu último carnaval, o percussionista dividiu o palco com o Clube Carnavalesco Misto Pão Duro, grupo centenário homenageado no carnaval do Recife, com o Maracatu Nação Porto Rico, também celebrado, e com os cantores Lenine e Sara Tavares, de Cabo Verde.
Apelidado de Naná pela avó, a música sempre foi a mola propulsora de Juvenal de Holanda Vasconcelos. Ele não media palavras para descrever seu amor e conexão com ela. Era como se a música fosse a energia, a batida, que movia o coração do percursionista.
No ano de 1960, Naná deixou o Recife e foi morar no Rio de Janeiro, onde gravou dois discos com Milton Nascimento. Com o cantor Geraldo Azevedo, viajou para São Paulo para participar do Quarteto Livro, que acompanhou Geraldo Vandré no icônico Festival da Canção.
A obra de Naná foi propagada e respeitada dentro e fora do Brasil. Ele fez parte do grupo Jazz Codona, com o qual lançou três discos. Chegou a gravar com B.B King, com o violinista francês Jean-Luc Ponty e com a banda Talking Heads, liderada por David Byrne, um dos grupos precursores do movimento “new wave”. Nacionalmente, ele participou de álbuns de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Marisa Monte e Mundo Livre S/A.
O pernambucano também fez trilhas sonoras para filmes nacionais e norte-americanos. Foi eleito oito vezes, por revistas especializadas em música nos Estados Unidos, como o melhor percussionista do mundo.
Em contraponto, por sempre acreditar que a música podia transformar e melhorar a vida das pessoas, também era um humanitário nato. Naná foi responsável por criar diversos projetos sociais como o “Língua Mãe”, que reuniu crianças de três continentes: América do Sul, Europa e África. Naná também defendia levar a música para dentro das comunidades carentes do Recife como forma de incentivo à educação e cultura.
Há 15 anos, a abertura do carnaval do Recife seguia sob o comando firme e talentoso de Naná. Com 12 maracatus, 600 batuqueiros e o coral Voz Nagô, o marco ocorria sempre na sexta-feira de carnaval, levando magia e beleza para a multidão de foliões. Um espetáculo que só a criatividade de Naná e a força do carnaval pernambucano podiam criar.