Cura: novo espetáculo de Déborah Colcker traz a Maceió mistura de arte, ciência e fé
Apresentações acontecerão no Teatro Gustavo Leite nos dias 16 e 17 de abril
Janaina Ribeiro - Repórter
A Companhia de Dança Déborah Colker está de volta a Maceió. Com o seu mais novo espetáculo, Cura, a coreógrafa e bailarina carioca traz ao palco, desta vez, um trabalho que mistura fé, ciência e arte. Ao longo da apresentação, o público irá se emocionar com passos, trilha sonora e mensagens que nos levará à reflexão sobre esses três elementos tão fundamentais.
Com uma carreira de quase 30 anos, a artista, sempre ousada e provocativa em seus espetáculos, carrega uma dezena de prêmios e trabalhos que marcaram a sua história. Reconhecida pela crítica internacional, a excelência de sua dança já foi honrada com o Laurence Olivier Award, na categoria “Oustanding Achievement in Dance” (realização mais notável em dança) e com vários desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, assinando, por exemplo, coreografias de comissões de frente de agremiações como Mangueira e Imperatriz Leopoldinense.
Déborah Colker jamais se inquietou e nunca limitou sua atuação a solo tupi-guarani. Foi a única brasileira a criar um espetáculo para o famoso Cirque de Soleil, que foi chamado de Ovo, uma viagem lúdica pelo mundo dos insetos. E tem mais: como ela própria costuma dizer, sentiu-se honra por ter sido diretora de Movimento das Olimpíadas do Rio 2016.
O Maceió40Graus conversou com a bailarina e coreógrafa, e isso é o que você confere na entrevista abaixo:
1. Foi um motivo muito pessoal que te inspirou a produzir esse espetáculo. Por que você escolheu unir a doença genética do seu neto com a arte? Qual é a sua intenção ao associar essas duas coisas?
R: Meus espetáculos, pelo menos até agora, partem de histórias pessoais, conectam algo profundo e urgente de expressar. Eu decidi afirmar que a Cura tem que existir: se não é possível no plano físico, tem que ser no emocional ou no intelectual ou no espiritual. Eu ouvi muito tempo que a cura não existe. Ela tem que existir e existe! Carlinhos diz na canção do curativo da alma e do corpo ‘Traga meu sorriso para dentro, sou mais forte que a minha dor.’ Eu fiz uma ponte entre a fé e a ciência. A ciência sempre foi e será minha parceira, mas ela demanda paciência, espera, tempo, e é importante alimentar outros planos da existência, combater todas as discriminações e perceber que cada um é um universo. A arte é provocativa, reflexiva e cheia de afeto, muito parecida com a ciência, com a genética. Dois saberes cheios de esperança e investigativos. Fazem uma ótima parceria. A cura do que não tem cura. A cura sempre existe.
2. Ao longo da produção do espetáculo, por algum momento você teve medo, receio de expor dores, angústias, a busca da cura, tudo isso para uma plateia que, talvez, nem conheça a epidermólise bolhosa?
R: O espetáculo não é sobre epidermólise bolhosa, nem sobre o Theo. Começa aí, mas se desdobra em muitos saberes, em muitos personagens, em culturas, religiões, ciência, fé. O medo não é bem-vindo num processo de criação, e sim a pesquisa, a experimentação.
3. Como se deu a escolha do nome Cura? A princípio, você pensou em outras nomenclaturas?
R: O nome Cura surgiu quando Sthephen Hawking morre, e eu entendi que ele encontrou a cura do que não tem cura. Ele driblou um diagnóstico, o tempo de vida que deram a ele (3,4 anos no máximo), e viveu mais 50 anos criativos e iluminados. Foi perdendo todos os movimentos, só mexia a pálpebra, mas continuou com a cabeça dele a mil. E se tornou indiferente aquilo que ele foi perdendo. Criou um programa de computador para poder se comunicar, escrever, se conectou com o Cosmo e nunca perdeu o humor. Extraordinário, é isso que estou buscando. Pensei “Isso é a Cura do que não tem cura” e pensei “esse espetáculo vai se chamar Cura!”. Era março de 2018.
4. Cura traz na dramaturgia a assinatura do rabino Nilton Bonder e, na trilha sonora, Carlinhos Brown. Por que a escolha desses nomes?
R: Bonder é um escritor de 26 livros, um grande pensador, com uma cultura diversificada, e como um bom rabino, um ótimo contador de histórias. Ele foi fundamental para me ajudar a construir esse cocktail de saberes e fazer esse bordado. Carlinhos é um inventor de sons, ele conecta o céu e a terra com seis tambores e sinfonias. Ele buscou as sonoridades e o silêncio da Cura.
5. O espetáculo mistura referências de diferentes religiões, incluindo algumas monoteístas, passando por elementos de culturas africanas, indígenas e orientais. A ‘cura’ que você busca provocar como reflexão passa por essa mistura de cultos?
R: O grito e o silêncio, a dor e a alegria, a cura e a doença, a vida e a morte. Entendi que meu grande inimigo é a ignorância e não as doenças raras. A discriminação, o desrespeito esses são meus inimigos. As religiões, culturas e povos com todas suas contradições e dualidades buscam a cura. Se aproximar da dor do outro, o direito de pedir, implorar por cura, visitar, amar, a alegria cura. Busquei provocar a reflexão sobre: o que é curar? O que está doente? O que é normal? O que é respeito? Uma ponte entre a fé e a Ciência.
6. Para o público alagoano que deseja ver a Companhia Deborah Colker de volta aos palcos, que mensagem você deixa para ele?
R: Este espetáculo é de cada um. Cada um conecta sua dor, sua ausência, seu luto, sua memória e sua alegria. Uma experiência de sentidos, e percebo que é uma experiência forte e individual. Uma montanha-russa de emoções. Simples, intensa e cheia de significados.
Serviço:
Cia. Deborah Colker – Espetáculo Cura
Data e local: 16 (21h) e 17 de abril (20h), no Teatro Gustavo Leite – Centro de Convenções de Maceió
Ingressos: Plateia A: R$ 140,00 (inteira) R$ 70,00 (meia-entrada)/ Plateia B: R$ 110,00 (inteira) e R$ 55,00 (meia-entrada)/ Mezanino A: R$ 90,00 (inteira) e R$ 45,00 (meia-entrada)/ Mezanino B: 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia-entrada)
Vendas: Viva Alagoas – Maceió Shopping
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