Exposição fotográfica e lançamento de livro em Maragogi
No maior cartão postal do segundo polo turístico do Estado, foi erguida a réplica de um casebre típico do conjunto Deda Paes, ali, serão realizados a exposição fotográfica “Sorrisos à superfície do lixo” e o lançamento do quarto romance do escritor nativo José Valdemar de Oliveira, intitulado “O Sexo de Judas”.
Assessoria de Comunicação
Nesta quarta-feira, 26, a partir das 20h00, dois eventos culturais movimentarão a orla marítima da cidade de Maragogi. No maior cartão postal do segundo polo turístico do Estado, foi erguida a réplica de um casebre típico do conjunto Deda Paes, de estaca, vara e taipa, com cobertura de palha de coqueiro, ao lado do Centro de Informações Turísticas. Ali, serão realizados a exposição fotográfica “Sorrisos à superfície do lixo” e o lançamento do quarto romance do escritor nativo José Valdemar de Oliveira, intitulado “O Sexo de Judas”.
As imagens da exposição, que ficará até domingo, 30, foram captadas pelas lentes sensíveis do fotógrafo Jakson Kenedy, um ensaio despretensioso realizado há um ano para o site Maragogi News. “Convidei o Jakson porque já conhecia o trabalho dele – já tinha feito outros ensaios para o site –, e a sua generosidade. Ele aceitou, sem remuneração. Apesar de jovem, é um profissional já respeitado na sua área (trabalha para o site Maceió40graus). Esse ensaio foi e tornou-se muito especial porque mostra o lado mais suave, mais humano possível da comunidade. Teve a finalidade de resgatar a autoestima das pessoas de lá, e até mesmo de quebrar o estigma que os persegue, o de que ali só tem determinado tipo de gente. O preconceito isola, o preconceito causa danos irreparáveis à sociedade”, falou José Valdemar, administrador do site Maragogi News.
A exposição terá 39 fotografias, de adultos e crianças, e faz parte do “Projeto da Paes”, que é um projeto de inclusão social, com foco na valorização humana. As fotografias dão uma amostra da diversidade e da singularidade de um local que hospeda pessoas múltiplas. Se o sistema decidiu excluí-las, a arte visual, ou seja, a exposição ousa lhes dar visibilidade.
“Aceitei participar do ensaio porque faz parte de um projeto que tem um objetivo muito bonito, que é o de dar, ou devolver, cidadania e respeito aos moradores, seja através da arte, de ações sociais, do esporte ou de cursos profissionalizantes”, disse Jakson Kenedy, fotógrafo. “Busca integrar os jovens moradores, valorizando suas habilidades.”
Deda Paes
O Conjunto Residencial Deda Paes, também conhecido vulgarmente como “Risca faca”, registra um alto índice de violência entre os jovens moradores, devido à sua vunerabilidade social. Há uma total ausência de políticas públicas que ofereçam condições fundamentais para o exercício da cidadania.
Foi criado após uma determinação judicial que exigiu a retirada de famílias que habitavam às margens da Rodovia AL 101, na cidade de Maragogi. No ano de 2007, o gestor municipal da época, para resolver o grave problema da desocupação, adquiriu, com recursos públicos, uma área de matagal próxima à principal entrada e saída norte da cidade. As famílias, no entanto, foram instaladas no referido local sem apoio de infraestrutura habitacional e sanitária, e atualmente ainda vivem da mesma forma. Com dados registrados pelo município, o Conjunto abriga aproximadamente cerca de 700 pessoas, sendo 300 crianças na faixa etária até 12 anos.
O romance e o autor
A história do romance começa com uma breve introdução, quase poética, que sucinta muito bem o conteúdo escrito nas páginas, onde o autor salienta a divisibilidade do humano, fragmentado naquilo que ele é, de fato, mas que é escondido nas falsas aparências das normais sociais. A noite é o período no qual os instintos sexuais, os sentimentos e desejos afloram contra a grande repressão embutida na alma durante o dia, suscitada pelo desempenho de estados emocionais escondidos sob a forma das aparências. Dois rapazes, aparentemente distantes, encontram-se numa noite, em local isolado, com pouca movimentação. Deste contato ocorrerá o assassinato de um pelo outro, seguido, aparentemente, do cometimento do suicídio daquele que praticou o assassinato. Uma única testemunha ocular elucidará as visíveis razões de tal ato de violência, tendo entendido, por meio da discussão, que os dois sujeitos mantinham um relacionamento sexual. O envolvimento sexual é representado como um desvio em relação às normas heterossexuais, de forma que o relacionamento dos dois homens se estorvava em um distanciamento afetivo, devido à grande dose de culpa e medo sentida, por ambos, em decorrência do forte julgamento externo. Nessa aparente frivolidade entre os dois, escondiam-se uma afetividade que surgiu no caos emocional, fato que lhe levará ao fatídico desenlace. Após a apresentação de tal cena, a narração começará com a história de Serginho, sujeito jovem que se entende como homossexual. Nos relatos do protagonista, a acentuada atmosfera de afetividade precária continua se apresentando nas relações familiares e com o outro. O “Sexo de Judas” é um romance crítico que aponta a fragilidade das estruturas sociais, repressoras, que de tanto atormentarem aqueles que se desencaixam do convencional, acabam fomentando ainda mais a violência.
José Valdemar é alagoano de Maragogi. Ganhou o primeiro prêmio literário aos 19 anos, num concurso de contos promovido pela Pró-Reitoria de Extensão da UFAL. Também foi agraciado com dois prêmios da Academia Alagoana de Letras. Ficou entre os vinte finalistas do Concurso Guimarães Rosa, da Radio France Internationale, Paris, França. Em 2015, obteve a terceira colocação no XII Prêmio Barueri de Literatura, categoria conto. Já publicou os seguintes livros: Vapor Barato, ed. 7Letras, RJ, 2007 (contos); O Inferno São os Outros, ed. CEPAL, 2014 (romance); Domingo é Dia de Morrer, ed. Penalux, SP, 2017 (contos). O Sexo de Judas é seu quarto livro, o segundo pela ed. Penalux. Participou da antologia de contos Casa de Orates, ed. Mondrongo, BA, 2016.